PF e CGU investigam possíveis irregularidades no leilão de arroz

 


A Polícia Federal instaurou inquérito para apurar possíveis irregularidades no leilão realizado pela Conab (Companhia Nacional de Abastecimento) para compra de arroz importado.
 

De acordo com nota divulgada nesta quarta-feira (12), a corporação atendeu a um pedido da companhia, que solicitou a investigação após denúncias de que empresas sem histórico de atuação no mercado de cereais venceram o processo seletivo.
 

O governo federal decidiu anular o leilão de importação de arroz feito neste mês, após indícios de falta de capacidade técnica e irregularidades das empresas vencedoras.
 

A compra emergencial foi anunciada pelo Executivo federal para minimizar o impacto nos preços da calamidade climática enfrentada pelo Rio Grande do Sul.
 

Das quatro empresas que venceram o leilão de arroz do governo federal, a maior compradora é dona de um estabelecimento em Macapá (Amapá) que tem como atividade principal a venda de leite e laticínios.
 

Outra é de um empresário de Brasília que disse à Justiça ter pago propina para conseguir um contrato com a Secretaria de Transportes do Distrito Federal (DF).
 

Em outra frente, também a pedido da Conab, a CGU (Controladoria-Geral da União) também vai apurar possíveis irregularidades no processo de importação de arroz.
 

De acordo com comunicado da CGU, a companhia também conduz apuração interna, por meio de sua Corregedoria, para auxiliar no esclarecimento dos fatos.
 

O ministro Carlos Fávaro (Agricultura) afirmou nesta quarta-feira em evento no Rio de Janeiro que o governo cancelou o leilão de importação por não ter "compromisso com o erro" e disse que um outro certame será realizado por meio da Conab.
 

O caso culminou na demissão do secretário de Política Agrícola, Neri Geller.
 

Reportagem do site especializado The Agribiz mostrou que a Bolsa de Mercadorias de Mato Grosso (BMT) e a Foco Corretora de Grãos, que foram criadas no ano passado pelo ex-assessor do então deputado federal Neri Geller Robson Luiz de Almeida França, intermediaram a venda de quase metade do arroz importado que foi vendido no leilão da Conab.
 

O filho de Neri Geller, Marcelo Piccini Geller, é sócio em outro empreendimento de Robson Luiz de Almeida França.
 

"Nós fomos surpreendidos, com as notícias pela imprensa, de uma tendência de informação privilegiada ao ter, no secretário de Política Agrícola, um vínculo familiar entre o presidente da Bolsa de mercadorias do Mato Grosso além de corretora. Ora, não temos compromisso com o erro, infelizmente", afirmou Fávaro após participar de painel no FII Priority Summit, encontro organizado pelo principal fundo da Arábia Saudita, realizado no Copacabana Palace, no Rio de Janeiro.
 

Geller, por sua vez, chamou, em entrevista à Folha, o leilão de "erro político" e disse que as denúncias tomaram uma grande proporção justamente para atingi-lo.
 

"A forma com que foi conduzido [o leilão para a importação de arroz] foi um equívoco, gerou uma reação muito forte da oposição e do setor produtivo, instabilidade no Congresso. Se eu pedisse demissão, estaria assumindo uma parcela de um erro político que não é meu", disse.
 

Geller afirma que o responsável por intermediar o leilão deixou de ser seu assessor em 2020 e que França já atuava no setor antes de o secretário entrar no ministério. Diz também que a empresa do ex-auxiliar com seu filho foi aberta, mas nunca operou.
 

"É justo que os órgãos de controle fiquem de olho, mas não tem uma vírgula errada. Não posso coibir um ex-assessor meu de realizar a atividade dele. O erro deles, do meu filho também, foi nunca ter dado baixa na empresa, aí não teria dado todo esse imbróglio", diz.


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