Por Camila Zarur | Folhapress
A prisão do ex-bombeiro Maxwell Simões Corrêa e a delação do ex-policial militar Élcio de Queiroz iniciaram uma nova etapa nas investigações do assassinato da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes.
A Polícia Federal e o Ministério Público do Rio foram às ruas, nesta segunda-feira (24), na primeira fase das novas investigações.
Marielle e Anderson foram assassinados a tiros no dia 14 de março de 2018. Eles voltavam de um evento no centro do Rio quando foram alvejados. Um ano após a morte, os ex-policiais Ronnie Lessa e Élcio de Queiroz foram presos. O primeiro é acusado de ter sido o autor dos disparos, e o segundo, de ter dirigido o carro usado no crime.
O caso está há cinco anos sem ser completamente esclarecido. Os investigadores tentam chegar aos mandantes do crime e quais os motivos que tiveram para matar a vereadora.
Após as constantes trocas no comando do inquérito da Polícia Civil e uma série de tentativas de atrapalhar as investigações, a Polícia Federal instaurou, em fevereiro, um novo inquérito. Com isso, a corporação, o Ministério da Justiça e o Ministério Público do Rio assumiram os trabalhos para concluir o caso.
O QUE JÁ SE SABE E O QUE FALTA ESCLARECER SOBRE O CRIME
Até agora, quem são os suspeitos?
Ao menos três pessoas estão presas pelo envolvimento direto na morte de Marielle e Anderson. São elas Ronnie Lessa, Élcio de Queiroz e Maxwell Simões Corrêa.
Nesta segunda-feira, seis pessoas foram alvos de busca e apreensão e intimados a depor por também estarem relacionados ao caso: Denis Lessa, irmão de Ronnie; Edilson Barbosa dos Santos, conhecido como Orelha; o casal João Paulo Vianna Soares, vulgo Gato do Mato, e Alessandra da Silva Farizote; o policial militar Maurício da Conceição dos Santos Júnior, o Mauricinho, e Jomar Duarte Bittencourt Júnior, Jomarzinho, filho de um delegado federal.
Além disso, com a delação de Queiroz, um novo nome surgiu no caso: Edmilson Oliveira da Silva, conhecido como Macalé.
O que cada um fez?
As investigações indicaram que Ronnie foi o autor dos disparos que mataram Marielle e Anderson, enquanto Queiroz era quem dirigia o carro que perseguiu e emparelhou com o veículo das vítimas no momento que foram mortas.
A Promotoria apontou também que, com base na delação de Queiroz, Maxwell, conhecido como Suel, participou ativamente antes, durante e depois do crime. Junto com Ronnie, ele ficou de campana para vigiar a vereadora desde agosto de 2017, conforme afirmou o Ministério Público. Depois, ajudou a esconder o arsenal do ex-PM e tentou atrapalhar as investigações.
Maxwell também teria participado de uma tentativa frustrada de matar Marielle, ainda no final de 2017.
Já sobre os demais alvos da operação desta segunda-feira, Denis é suspeito de ter recebido os equipamentos usados por Ronnie no crime. Já Edilson foi apontado por Queiroz de ter sido o responsável por fazer o desmanche do veículo.
O casal João Paulo e Alessandra são apontados pela promotoria e pela Polícia Federal como suspeitos de terem feito o descarte da arma usado no crime, uma submetralhadora MP5. Segundo Queiroz, os dois eram próximos de Ronnie.
Maurício e Jomar, por sua vez, são suspeitos de terem vazado a Ronnie e a Maxwell informações da operação que prenderia o ex-PM, em março de 2019.
Por fim, Macalé foi apontado por Queiroz como quem teria chamado Ronnie para participar do crime.
Como foi o crime?
Com a nova fase do inquérito, a Polícia Federal e o Ministério Público deram o passo a passo de como aconteceu o assassinato. Segundo as investigações, Ronnie teria ligado para Queiroz na tarde do dia 14 de março de 2018 para chamá-lo para o "serviço".
Os dois utilizaram um carro adulterado, que pode ter sido roubado ou clonado, para cometer o crime. De noite, seguiram Marielle até a Casa das Pretas, na Lapa, onde ela participava de uma reunião. Com o fim do evento, Ronnie e Queiroz continuaram atrás da vereadora, que entrou no veículo de Anderson em direção à Tijuca, na zona norte.
Na altura do Estácio, ainda no centro, Queiroz emparelhou com o carro de Anderson, e Ronnie fez os disparos, segundo a investigação. Marielle e o motorista morreram na hora. A assessora da parlamentar, Fernanda Chaves estava no veículo atingido, mas não se feriu.
Por que Queiroz decidiu fazer a delação?
A Polícia Federal e o Ministério Público afirmaram que conseguiram provas contundentes que tornaram quase que inquestionáveis a participação de Ronnie e Queiroz no crime. Segundo os investigadores, isso foi o que levou o ex-policial a firmar a colaboração.
Entre as provas citadas estão as buscas feitas por Ronnie em um banco de dados privado pelo CPF de Marielle e sua familía --até então, a investigação não tinha conseguido provas de que ele tivesse feito essas buscas no Google. A forma de pagamento a esse banco de dados confirmou que se tratava do ex-PM.
Também pesaram as imagens em frente à Casa das Pretas, que mostram Queiroz no banco da frente do carro usado no crime, e o depoimento da mulher de Ronnie, que afirmou que a dupla não estava em casa na noite do assassinato, contrariando o que eles tinham alegado.
Quem é o mandante?
As investigações ainda não chegaram ao mandante do crime. No entanto, o aparecimento de Macalé na história pode ajudar a esclarecer esse ponto. Na delação, Queiroz afirma que foi Macalé quem intermediou a participação de Ronnie no crime.
Ainda há uma parte da colaboração que continua sob sigilo. Nela podem estar mais informações sobre Macalé, que também é ex-PM. Ele foi morto a tiros em novembro de 2021 e era suspeito de ter envolvimento com a contravenção do Rio.
Qual a motivação do crime?
Os promotores do caso afirmaram trabalhar com diversas hipóteses sobre o que motivou o assassinato de Marielle e Anderson, mas, desde as primeiras denúncias, a principal linha é que a atuação política da vereadora pode ter levado os assassinos a agirem.
"Isso não exclui outras motivações. [Mas] não exclui o fato de que Ronnie tinha ojeriza às causas defendidas por ela, isso está na primeira denúncia e permanece", disse o promotor do Ministério Público Eduardo Martins.
Quais os próximos passos do caso?
O ministro da Justiça, Flávio Dino, disse em entrevista coletiva nesta segunda-feira que haverá desdobramentos da operação nas próximas semanas. Ele, no entanto, disse que ainda não era possível dar detalhes sobre os próximos passos.