Compra de caminhões de lixo levanta suspeita de superfaturamento pelo governo federal

 

Compra de caminhões de lixo levanta suspeita de superfaturamento pelo governo federal
Foto: Reprodução / Codevasf

Empresas fantasmas, cidades sem demanda que justifique a quantidade de veículos adquiridos e preços diferentes praticados em um curto espaço de tempo. O cenário de irregularidades foi revelado pelo jornal O Estado de S. Paulo neste domingo (22) e ilustra a entrega de caminhões compactadores pelo governo federal.

 

A publicação mostrou que a quantidade de veículos entregues para pequenas cidades saltou de 85 em 2019 para 488 em 2021. A política é usada por senadores, deputados e prefeitos para angariar votos. 

 

Cerca de R$ 381 milhões destinados pela União para essa finalidade. Segundo a reportagem, R$ 109 milhões em pagamentos inflados foram identificados.

 

Em algumas situações a diferença na aplicação dos recursos federais foi de 30%. Os veículos comprados eram idênticos. Em outubro, por exemplo, o governo desembolsou R$ 391 mil e, um mês depois, pagou R$ 505 mil por outra unidade do mesmo modelo.

 

O Estadão também apontou casos em que o governo recebeu veículos menores do que o comprado sem reaver a diferença de preço, cidades de 8 mil habitantes - a exemplo de Barra de São Miguel (AL) - que receberam 3 compactadores em pouco mais de um ano e até beneficiários do auxílio emergencial que ganharam licitações para fornecer equipamentos.

 

A entrega dos carros foi motivo de festa em diversos municípios. Na cidade de Brasileira (PI), a gestão comemorou o mesmo caminhão duas vezes, enquanto a de Mairipotaba (GO) fez uma "lixociata" para aplaudir o ato.

 

Em Minador do Negrão, interior de Alagoas, o evento de inauguração do coletor contou com a presença do ex-presidente e atual senador Fernando Collor (PTB), que direcionou uma emenda parlamentar para tal finalidade. 

 

Especialistas consultados pela reportagem aconselham o uso de caminhões do tipo apenas em cidades com população acima de 17 mil habitantes, devido ao alto custo de operção e manutenção.

 

Ao todo, 1.048 caminhões compactadores de lixo foram licitados pelo governo Bolsonaro através da Superintendência de Desenvolvimento do Centro-Oeste (Sudeco), da Fundação Nacional de Saúde (Funasa) e da Companhia de Desenvolvimento do Vale do São Francisco (Codevasf), todas elas controladas por membros do "Centrão".

 

As compras saltaram depois de 2020, quando os membros dos partidos aliados passaram a chefiar os órgãos. O número saiu de 85 em 2019 para 510 em 2020 – um aumento de 500%.

 

Ainda de acordo com a publicação, a reportagem procurou as responsáveis pelas entregas. A Sudeco disse que agiu conforme um “alinhamento de todo o Executivo”. A Funasa alegou que é o município quem define o tamanho do caminhão. E a Codevasf negou irregularidades. O Palácio do Planalto não respondeu aos questionamentos do jornal. Os políticos citados na reportagem não ligaram de volta.

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