Por Leandro Aragão / Nuno Krause
O mundo perdeu, nesta quinta-feira (29), Pelé. O maior jogador de todos os tempos morreu aos 82 anos. Ele estava internado no Hospital Albert Einstein, em São Paulo, onde deu entrada no mês de novembro para reavaliação do tratamento de um câncer no cólon. Durante esse período, ele foi diagnosticado com uma infecção respiratória e, no último dia 21, o Rei do Futebol apresentou "progressão da doença oncológica", que exigiu maiores cuidados com disfunções renal e cardíaca.
No final de agosto de 2021, Edson Arantes do Nascimento foi encaminhado para a unidade de saúde e descobriu um câncer no cólon. Após retirar o tumor e receber alta, ele seguiu realizando sessões de quimioterapia. O tratamento não teve o efeito desejado e o Rei não resistiu.
Ele deixa a esposa, Márcia Aoki, e sete filhos, Kely, Edinho, Jennifer, e os gêmeos Joshua e Celeste, Sandra Machado - filha que foi legitimada por uma ação na justiça - e Flávia Christina.
REI DO FUTEBOL
Foi com apenas 17 anos que Pelé mostrou para o mundo que se tornaria um marco no futebol. Entre gigantes da modalidade, o menino de Três Corações (MG), nascido em 23 de outubro de 1940, foi o principal responsável pelo primeiro título de Copa do Mundo do Brasil na história, em 1958, disputada na Suécia. O zagueiro da seleção anfitriã Bengt Gustavsson não esperava levar o chapéu que culminaria no primeiro gol do atleta do século, eleito em 1980 pelo jornal francês L’Equipe, em uma final de mundial. O Rei ainda marcaria mais uma vez, no finzinho do jogo, consolidando a goleada de 5 a 2.
Pelé brilhou na Copa de 58 com apenas 17 anos | Foto: FIFA
Outros dois títulos de Copa do Mundo o destino reservou para o craque, sendo o mais marcante o de 1970 – em 1962 ele se machucou no segundo jogo do torneio. Junto a uma equipe recheada de estrelas, como Jairzinho, Gerson, Tostão, Rivellino e Carlos Alberto, Pelé ajudou a construir a fama de uma das maiores seleções de todos os tempos.
O último gol na final contra a Itália, vencida pelo Brasil por 4 a 1, traz a imagem de um Pelé sereno, ciente de tudo o que representa, rolando a bola quase com displicência para uma pancada fenomenal de Carlos Alberto.
Na Copa de 70, Pelé ajudou a Seleção a atingir seu auge | Foto: FIFA
Dessa forma construiu-se a narrativa da carreira de Pelé. Como Rei, o camisa 10 do Santos e da Seleção Brasileira desfilou soberano pelos gramados do mundo inteiro. Com o Peixe, ele conquistou seis títulos do Campeonato Brasileiro, dois da Libertadores da América, 10 do Paulistão, três do Torneio Rio-São Paulo, dois da Copa Intercontinental, um da Recopa dos Campeões Intercontinentais e um da Supercopa Sul-Americana.
Às 23h23 do dia 19 de novembro de 1969, Pelé chegou ao seu milésimo gol. Rodeado de câmeras em um Maracanã lotado, o Rei ainda deu uma “paradinha” antes de cobrar o pênalti que entraria para a história. O goleiro adversário, o argentino Edgardo Norberto Andrada, do Vasco, até acertou o canto, mas não conseguiu evitar a façanha.
Pelé marcou seu gol mil de pênalti, no Maracanã, contra o Vasco | Foto: Santos FC / Divulgação
A estatística contabiliza jogos não oficiais. De forma oficial, o maior de todos os tempos tem 757 tentos anotados. São 643 pelo Santos, 77 pela Seleção Brasileira e 37 pelo Cosmos, dos Estados Unidos, clube pelo qual atuou no final de sua carreira.
POLÊMICAS EXTRACAMPO
Apesar de ter sido soberano dentro de campo, fora dele Pelé foi personalidade polêmica. Desde uma postura passiva em relação à ditadura militar, que vivia seu auge no Brasil na década de 70, até o não reconhecimento da paternidade de uma de suas filhas, Sandra Regina, Edson Arantes transitou no imaginário coletivo como figura duvidosa.
“O Brasil é um país liberal, uma terra de felicidade. Somos um povo livre. Nossos dirigentes sabem o que é melhor para nós e nos governam com tolerância e patriotismo”, disse o Rei, em entrevista ao jornal uruguaio La Opinión, em 1972, segundo o Instituto Vladimir Herzog, quando perguntado sobre a ditadura no Brasil.
Pelé levanta taça da Copa do Mundo ao lado de Médici | Foto: Roberto Stuckert / Folhapress
À época, o general Emílio Garrastazu Médici era o militar que estava no comando do país. Anos mais tarde, Pelé disse não ter ido à Copa de 1974 por não corroborar com o regime, quando o general Ernesto Geisel já tinha assumido o Brasil.
"Pediram para eu voltar para seleção, eu não voltei. Eu já tinha me despedido do Santos, mas eu estava bem demais. Mas a filha do Geisel veio falar comigo, para eu voltar e jogar a Copa de 74. Por um único motivo não aceitei: estava infeliz com a situação da ditadura no país. Estava preocupado com o momento. Em apoio ao país, eu recusei, pois estava muito bem e poderia jogar em alto nível", afirmou, em 2013, em entrevista ao Uol Esporte.
Já em relação a Sandra Regina, o caso ganhou repercussão na mídia em 1991, quando ela entrou com uma ação judicial para o Rei do Futebol a reconhecê-la como filha. O processo durou até 1996, quando o exame de DNA deu positivo.
Sandra nasceu de um caso de Pelé com Anísia Machado, em 1963, e morreu de câncer de mama em 2006. O ex-jogador não compareceu ao enterro. Antes disso, em 1998, ela lançou o livro “A Filha que o Rei não Quis”, pela Editora Roccia, de São Paulo, no qual relatou o sentimento de rejeição.
Esses são exemplos das controvérsias que Pelé viveu. O relacionamento conturbado com Xuxa, no qual ela o acusa de traí-la diversas vezes, a polêmica com o zagueiro Procópio Cardoso, do Cruzeiro, que ficou 1.869 dias sem jogar após o Rei atingi-lo no joelho de propósito, e outros fatos também fazem parte do enredo pelo qual se enveredou a trajetória do mito.
SAÚDE DEBILITADA
Nos últimos anos, a preocupação com a saúde do atleta do século tornou-se regra. Pelé passou por três cirurgias no quadril, teve de retirar um dos rins e, neste último momento, conviveu com o câncer.
Nos dias que precederam sua morte, o Rei fez diversas publicações nas redes sociais relembrando os tempos de atleta e prestando homenagens. Dessa vez, as lembranças são todas direcionadas àquele que mudou para sempre o futebol. Rei Pelé.