Por José Nilton Calazans
A ofensiva do sofá bege: Monalisa joga pesado para tentar manter o controle do legislativo em Ibicaraí e quer Gui presidente da Casa.
A política de Ibicaraí entrou de vez em um clima de guerra silenciosa pelo poder, mas agora cada vez mais explícita.
Quem assistiu à participação da prefeita Monalisa Tavares nesta quarta-feira (21) na Câmara Municipal pode não ter percebido o clima de guerra que esquentou por baixo dos panos.
Um dia antes de ir à Câmara, a prefeita agiu para impedir o avanço de um projeto político alternativo ao seu, que é o de eleger o aliado Guilherme (Gui) Cardoso presidente da Câmara para o biênio 2027-2028.
O movimento é uma resposta direta à crescente preferência entre vereadores pelo nome de Dodô da Huanna, que vinha articulando apoio para assumir o comando da Casa em 2027, quando acabar a presidência de Chico do Doce.
A reunião que separou aliados de adversários.
Na última terça-feira (22), Monalisa reuniu em sua casa sete dos onze vereadores da cidade: Alam do Bairro Novo, Clicia Guerreira, Alisson de Ceone, Nei da Vila, Rozenildo Linho, Demétrio Castro e o próprio Gui Cardoso.
Ficaram de fora os vereadores Chico do Doce (atual presidente da Câmara), Dodô da Huanna (o favorito natural), Edy da Vila e Herbinho do ServeBem.
Esses acima foram os quatro fora da reunião de Monalisa.
A escolha foi cirúrgica: fortalecer quem se mostrou disposto a negociar e isolar os que resistem ao projeto da prefeita.
A mobilização de Monalisa aconteceu porque Dodô também se movimentava em busca do poder.
Com apoio de nomes fortes como o prefeito de Itaju do Colônia, Elder Fontes, que também é presidente da Amurc e parceiro empresarial de bandas e shows, e o vice-prefeito de Ibicaraí, Jonathas Soares — operador de emendas do deputado Alex Santana —, Dodô buscava consolidar uma maioria silenciosa.
O vice-prefeito, aliás, tem projetos próprios de poder: sonha disputar a prefeitura no futuro e vê na eleição de Dodô uma chance de aumentar sua base.
A aproximação fortaleceria Dodô, com apoio também de Demétrio.
Os apoios a Dodô vão além de Ibicaraí e envolvem figuras fortes da região, com conversas até com o prefeito de Itabuna.
O preço do apoio: empregos, carros e cargos
Nos bastidores, o que se ouve é que a disputa extrapolou a política e entrou no terreno da troca de favores.
Pessoas próximas da situação disseram ao Grupo Ibicaraí que a reação da prefeita tentou retomar o controle dos vereadores para não ficar na mão de adversários também no próximo biênio.
Há conversas sobre promessa de cargos, contratos de aluguel de veículos e espaços na mesa diretora da Câmara. Os empregos da creche da Vila estariam loteados entre dois vereadores.
A reunião na noite de terça feira buscou atrair a maior quantidade possível de vereadores para o projeto de Monalisa de eleger Gui.
Clícia, que até havia cogitado disputar a presidência, recuou e aderiu ao grupo de Gui após negociações.
Demétrio e Linho, inicialmente resistentes e anteriormente alinhados com Dodô, também acabaram cedendo.
Linho foi o que mais relutou, mas acabou igual aos outros, sentado no “sofá bege” da prefeita, símbolo das negociações na casa oficial.
Um nome que surpreendeu foi Demétrio, que foi facilmente convencido a se sentar no sofá bege de Monalisa, mesmo com conversas com Dodô.
O limite legal que ninguém quer enfrentar
Chico do Doce é o atual presidente da Câmara para os primeiros dois anos da legislatura atual (2025 e 2026), o chamado primeiro biênio. Para os próximos dois anos (2027 e 2028), haverá um novo presidente.
Apesar da pressa para definir o comando futuro da Câmara, há um obstáculo legal claro: a antecipação da eleição para a mesa diretora é proibida.
O Supremo Tribunal Federal já se manifestou em casos semelhantes, como na ADI 7.733/DF.
A eleição da direção da Câmara só pode ser feita três meses antes da posse. Ou seja, em outubro do ano que vem. Tanto o grupo de Monalisa quanto o de Dodô sabem disso.
Mas corre nos bastidores a informação de que a prefeita poderia tentar um requerimento simbólico no plenário, apenas para testar a força política — mesmo sabendo que seria ilegal e arriscaria acusações de interferência no Legislativo.
Mais que uma cadeira, uma guerra de sucessão
No fundo, a disputa pela presidência da Câmara é apenas o reflexo de uma batalha maior: a luta pelo controle do futuro político de Ibicaraí e das verbas e empregos do município.
Monalisa tenta manter sua influência até o último dia do mandato.
Ela não quer correr o risco de continuar sem o controle da vereança por tanto tempo, ainda mais considerando que o vice tem boas relações com os adversários.
Dodô, Jonathas e outros, como Chico do Doce, se articulam para abrir um novo ciclo de poder. Confrontado, Chico nem participou da sessão com a presença da prefeita na quarta-feira.
Enquanto o Legislativo vira campo de guerra, a cidade assiste a tudo de fora.
Sem debates sobre orçamento, projetos ou prioridades públicas, a política local continua sendo decidida em reuniões fechadas, conversas à meia-luz, às escondidas, em negociações que pouco têm a ver com o interesse coletivo.
A guerra pelo poder está declarada. E o desfecho promete reconfigurar o mapa político da cidade. O povão, como sempre, de fora.
Foto da participação da prefeita Monalisa Tavares nesta semana na Câmara.
O vereador Alam é o mais alinhado com a gestão e foi o primeiro a se sentar no sofá bege para seguir os direcionamentos da prefeita.
E o vereador Demétrio foi o que mais surpreendeu ao também comparecer à reunião na casa dela e igualmente segui-la.