Bolsonaro enfrenta pressão de militares contra 7 de Setembro em Copacabana

 por Cézar Feitoza | Folhapress

Bolsonaro enfrenta pressão de militares contra 7 de Setembro em Copacabana
Foto: Presidência da República

Generais do Alto Comando do Exército e do Ministério da Defesa tentam convencer o presidente Jair Bolsonaro (PL) a não realizar o desfile militar de comemoração do 7 de Setembro na orla de Copacabana.
 

Integrantes da cúpula das Forças Armadas afirmaram à Folha de S.Paulo, sob reserva, que apresentaram ao presidente problemas logísticos e de segurança para a mudança do desfile, que tradicionalmente ocorre na avenida Presidente Vargas, no centro do Rio.
 

Na tarde desta quarta-feira (10), a cúpula do Ministério da Defesa estava dividida. Uma parte já considerava descartada a possibilidade de o desfile ocorrer em Copacabana, mas outros generais dizem que, apesar de um desfecho estar próximo, a decisão ainda não foi tomada.
 

O primeiro a apresentar as dificuldades da mudança do evento militar ao presidente foi o ministro da Defesa, Paulo Sérgio Nogueira. Ele havia sido informado verbalmente por Bolsonaro, no dia 29 de julho, sobre o desejo de fazer o desfile em Copacabana. Não houve oficialização do pedido de transferência de local.
 

O anúncio público ocorreu um dia depois, durante a convenção que lançou o ex-ministro Tarcísio de Freitas candidato ao Governo de São Paulo. "Sei que vocês [paulistas] queriam [que o ato fosse] aqui [em SP]. Queremos inovar no Rio. Pela primeira vez, as nossa Forças Armadas e as forças auxiliares estarão desfilando na praia de Copacabana", afirmou o presidente.
 

Na semana seguinte, no entanto, Nogueira alertou Bolsonaro sobre o estágio avançado de organização do desfile militar na avenida Presidente Vargas e que mudanças às pressas, com licitações em curso, poderiam gerar problemas logísticos e de segurança.
 

Bolsonaro também conversou com generais do Alto Comando do Exército, na última semana, e ouviu pedidos para que o desfile militar não fosse alterado.
 

Reservadamente, generais contaram à Folha que, analisando a conjuntura política e a proximidade das eleições, seria prejudicial à imagem do Exército associar um evento militar a possíveis ataques a instituições, como o STF (Supremo Tribunal Federal) e o TSE (Tribunal Superior Eleitoral).
 

Diante dos pedidos, a avaliação entre militares é que Bolsonaro tende a recuar da ideia. Uma possibilidade estudada é realizar manifestações civis em favor do governo em Copacabana, durante a tarde de 7 de Setembro, a exemplo do que ocorreu no ano passado em São Paulo. De manhã, o presidente acompanhará o desfile militar em Brasília.
 

Em 2021, na avenida Paulista, Bolsonaro exortou desobediência a decisões da Justiça e disse que só sairá morto da Presidência da República.
 

Logo após Bolsonaro anunciar a intenção de transferir o desfile para Copacabana, o prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes (PSD), disse nas redes sociais que seria mantido o local tradicional do evento.
 

"Evento organizado aonde o exército solicitou e aonde sempre foi feito. Simples assim! Prefeito aqui não trabalha na birra nem na fofoca. Preferências políticas e administração são coisas distintas. E as posições políticas aqui sempre foram claras", declarou.
 

O desgaste na imagem das Forças Armadas diante dos ataques do presidente Bolsonaro às urnas eletrônicas e a polarização política foi discutida na reunião do Alto Comando do Exército, na última semana, segundo três generais com conhecimento do tema.
 

De acordo com os relatos, a avaliação é que o Exército deve continuar com o trabalho de fiscalização do processo eleitoral, uma vez que o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) convidou os militares para participar da comissão de transparência da corte. No entanto, os generais querem afastar a imagem de que as Forças Armadas poderiam apoiar uma ruptura democrática.
 

A dificuldade, segundo os generais, é que falar publicamente contra um eventual golpe pode dar munição para oposicionistas analisarem o movimento como uma ruptura das Forças Armadas com o governo Bolsonaro.
 

Diante desse cenário, o chefe do Estado-Maior do Exército, general Valério Stumpf, divulgou na quinta-feira (4) uma mensagem a militares recém-promovidos e deu destaque às eleições.
 

"Todos nós, brasileiros, teremos em nossas mãos o mais poderoso e legítimo instrumento da democracia —?o voto— para decidirmos os destinos de nosso Brasil. Vamos usá-lo de forma consciente para que juntos possamos avançar no desenvolvimento social e econômico do país", escreveu.


No texto, Stumpf deu destaque à atuação do Exército nas operações de Garantia da Votação e Apuração, em apoio ao TSE.
 

"Em breve, o Exército e, por certo, os novos generais estarão empenhados em um momento especial para a nação brasileira: as próximas eleições. Faremos, como sempre, em apoio à Justiça Eleitoral, o transporte de urnas e a segurança dos locais de votação em muitos rincões de nosso país."
 

O chefe do Estado-Maior do Exército ainda disse que as Forças Armadas têm atuado, a convite do TSE, para "fortalecer ainda mais nosso processo eleitoral".
 

"Somos parte da sociedade que queremos proteger. Perfilamo-nos diante da mesma bandeira. Todos desejamos um Brasil forte, respeitado, sustentável e justo", concluiu.
 

Conforme a Folha de S.Paulo mostrou, a possibilidade de o presidente transformar as festividades do 7 de Setembro em novos atos golpistas é vista com preocupação por aliados do mandatário.
 

O temor é que novos ataques às urnas eletrônicas consolidem a rejeição ao presidente e desencadeiem uma nova reação de setores econômicos contra o Planalto.
 

No ano passado, Bolsonaro usou o feriado para convocar apoiadores para irem às ruas em atos de raiz golpista.
 

A ideia é que o encontro deste ano seja um aceno à parcela mais radical do eleitorado bolsonarista, que costuma se intitular como patriota. Aliados contam com os atos para o presidente demonstrar força política e eleitoral, além da fidelidade de seus apoiadores.
 

Na convenção nacional do PL que o oficializou como candidato a reeleição, Bolsonaro convocou seus apoiadores a irem às ruas "uma última vez" no 7 de Setembro e, em seguida, dirigiu seus ataques a ministros do STF.

 

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